27 maio 2010

LAVE O ROSTO



Depois lavou o seu rosto, e saiu; e conteve-se, e disse: Ponde pão.
(Gn 43:31)
 

Essa atitude de José, filho de Jacó, tem muito a nos ensinar.  Depois de chorar por ver seus irmãos após tantos anos de ausência, comer com eles e ainda não ter se dado a conhecer, fê-lo chorar de novo. Com isso, pressupomos que suas emoções devem ter alcançado um pico: sofreu, sentiu saudades, sentiu raiva, sentiu dó; quantas lembranças lhe vieram à mente, saudades da mãe, do pai, da infância. Tudo isso lhe fez chorar.

José é tão humano, tão normal, tão comum em suas reações, que sentimos grande simpatia por ele. Suas atitudes expressam exatamente como nos sentimos, como nos expressamos, como nos emocionamos. Eu nunca li o texto concernente à sua história, sem derramar uma ou outra lágrima.

Contudo, a elegância de José e a sua maneira de superar a crise, faz dele um dignatário da coroa de primeiro ministro, um elegante e brilhante líder. Diz o texto que ele não reteu suas lágrimas; antes, as derramou, como qualquer um de nós. Contudo, após a dor, lavou o rosto e foi comer. Não quis sentir-se de rosto ressecado por lágrimas ou manter-se no clima de tristeza. Ele lavou o rosto e mandou servirem pão.

Essa atitude muitas vezes nós não temos. Mantemo-nos numa situação de tristeza continuada, de emoção sem limites, de dor contínua e sufocante. Principalmente nos instantes em que perdemos alguém que nos era querido, ou um bom emprego, ou descobrimos estar com câncer, ou ao término de um namoro, noivado ou casamento. Há tantas situações que nos fazem chorar, e que, em sendo realimentadas, provocam rostos abatidos!         

É preciso lavar o rosto. Isto é, não apenas a face, a pele, não apenas barbear-se (ou arrumar a barba), pentear o cabelo, cuidar dos dentes ou vestir-se adequadamente. É preciso lavar o rosto, virar a página, ser forte, ser homem, ser um filho do Rei. Há muito por fazer: há um mundo para ser conquistado, há um Jacó para ser trazido e sustentado por nosso trabalho e empenho; há uma família para manter, há uma profissão a desenvolver, há uma faculdade a terminar, há vidas a salvar, há uma carreira a explorar, há um futuro a desbravar.

Isto não é fácil. Se não lavarmos o rosto, nos sentiremos ainda em lágrimas. Precisamos renovar. Precisamos remoçar. Precisamos fazer alguma coisa para nos olhar no espelho e dizer: “posso todas as coisas naquele que me fortalece”, ou “somos mais que vencedores por aquele que nos amou”, ou “o choro pode durar toda uma noite, mas a alegria vem pela manhã”, ou “o Senhor é o meu Pastor, e nada me faltará”, ou “cairá o justo, mas o Senhor o levantará”, ou “vá mas não peques mais”.

Sozinhos nós não conseguiremos. Mas colocando o Senhor como nosso amparo, nosso libertador, nosso socorro bem presente na hora da angústia, teremos a mesma força de José, que chorou, mas conseguiu superar. E ele não chorou só aqui. Fez isso outras vezes, porque era um ser humano, sensível e de coração quebrantado. Mas em todas as vezes que fez isso, certamente lavou seu rosto, ergueu-se na força do Senhor e foi avante. Nós também lavaremos nossos rostos, nos ergueremos na força do Senhor e iremos avante, firmes, constantes, olhando para o alto e para a frente, com a graça de Deus!

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