07 junho 2010

À espera de um milagre

João 5:1-14



Introdução

Quero tomar emprestado como título deste sermão o filme protagonizado por Tom Hanks que conta a história de um homem condenado injustamente que está no corredor da morte aguardando a execução. O nome do Filme é À Espera de um Milagre. Semelhantemente, a luz do texto de João capítulo 5, encontramos um homem que também está à espera de um milagre. Embora não esteja no corredor da morte, este paralítico está condenado a passar o resto dos seus dias nessa condição.
O evento de João 5 tem como cenário o Tanque de Betesda. O próprio texto afirma que “Nestes, jazia uma multidão de enfermos, cegos, coxos, paralíticos esperando que se movesse a água. Porquanto um anjo descia em certo tempo, agitando-a; e o primeiro que entrava no tanque, uma vez agitada a água, sarava de qualquer doença que tivesse” (v. 3-4). A crença na descida de um anjo gerou expectativa em muitos enfermos, provocando assim um ajuntamento de pessoas que estavam desenganadas pela medicina e aguardavam unicamente uma intervenção divina para solução de seus problemas. Todas essas pessoas estavam à espera de um milagre.
Entretanto, a Bíblia diz que Jesus desce ao encontro de um homem. Senão, vejamos:

Quem é esse homem?
1 – Um colecionador de fracassos
Estamos diante de um homem que sabe exatamente o significado da palavra fracasso. São 38 anos de tentativas frustradas. São 38 anos de experiências negativas. O histórico desse homem está marcado por decepções. Há 38 anos esse homem vê pessoas sendo curadas, mas ele não alcança a cura. Há 38 anos ele testemunha outras pessoas sendo beneficiadas pelo agito das águas, mas ele mesmo ainda está a esperar.
Muitas pessoas se encontram nessa mesma condição. Estão há tanto tempo esperando um milagre de Deus em suas vidas. Já ouviram tantos relatos e testemunhos de pessoas que foram abençoadas, mas simplesmente parece não chegar a sua vez de experimentar na sua própria vida aquilo que evidencia na vida de outras pessoas. 

2 – Alguém abandonado.
Quando Jesus lhe dirige a seguinte pergunta: “Queres ser curado?” (v. 6) ele prontamente responde: “Não tenho ninguém...”(v. 7). Esse homem expressa sua realidade de abandono. Abandonado pela família. Abandonado pelos amigos. Abandonado pela sociedade. Abandonado pelo Estado. Não há nada mais terrível do que o sentimento do abandono.
Pior do atravessar uma doença é atravessar uma doença sozinho. Pior do que estar no hospital, é estar no hospital sozinho. Não ter ninguém ao seu lado. Ele não contava com a solidariedade de ninguém. Em nome da fé pode-se criar um ambiente de competição, estresse, disputa e tensão. Naquele lugar, todos eram adversários, querendo um milagre. Havia uma concorrência em busca de milagres.

3 – Alguém que carrega um sentimento culpa (v. 14).
Não há consenso entre os comentaristas, mas o fato é que o verso 14 traduz uma idéia de que sua condição de paralisia se deu como conseqüência direta do seu pecado. Jesus advertiu-o, dizendo: “Olha que já estás curado; não peques mais, para que não te suceda cousa pior” (v. 14). A Idéia que o texto passa é que ele estava naquela condição em função do seu pecado. Se essa interpretação for verdadeira, com certeza esse homem carrega um enorme sentimento de culpa. Afinal, seus próprios caminhos o conduziram a uma vida de enfermidade.

Qual a reação de Jesus?

1 – Enquanto todos vão à Jerusalém em direção à festa, Jesus se dirige ao Hospital da cidade (v. 1-2).
O texto é categórico ao afirmar que havia uma grande festa em Jerusalém. Possivelmente a Páscoa ou a Festa dos Tabernáculos (celebrações responsáveis por grandes ajuntamentos em Jerusalém). Contudo, enquanto todos se dirigem ao banquete, Jesus vai em direção dos aflitos. Jesus disse: “os são não precisam de médicos, e sim os doentes” (Mt 9:12). Portanto, se você é alguém enfermo, doente, alguém que está a espera de um milagre..., você está no lugar certo.
Você está em Betesda! A palavra Betesda significa Casa de Misericórdia. Aqui não apenas os anjos descem para mover as águas, mas o próprio Cristo se faz presente para curar o seu povo. Jesus se dirige a um lugar onde havia uma multidão de doentes. Havia doentes de todas espécies. Um aglomerado de pessoas enfermas. Todas em busca do mesmo objetivo: ser curado! O que atraía as pessoas para aquele lugar era a expectativa de saírem dali curadas.

2 – Jesus está diante de uma multidão, mas vai em busca de um único homem.
Isso é simplesmente impressionante! Vemos aqui o valor de um indivíduo para Deus. Esse texto declara que Deus te vê no meio da multidão. Para Deus, você não é apenas mais um. Jesus moda todo o seu itinerário para encontrar-se com um único homem. Parafraseando o rabino Abraham Heschel: “a grande diferença entre o cristianismo e todas as outras religiões do mundo é exatamente esta: nas outras religiões o homem está tentando desesperadamente buscar Deus, enquanto no Cristianismo, o homem está terrivelmente perdido e, por isso, Deus vai em busca do homem para salvá-lo”.
Jesus vai em busca daquele homem:
2.1 - Jesus vê (v. 6). No meio daquela multidão, os olhos de Jesus alcançam aquele homem. O profeta Isaías já sinalizava sobre o olhar misericordioso de Deus “Porque a minha mão fez todas estas cousas, e todas vieram a existir, diz o SENHOR, mas o homem para quem olharei é este: o aflito e abatido de espírito e que treme da minha palavra” (Isaías 66:2).

2.2 – Jesus sabe (v. 6). Essa expressão revela a onisciência de Deus. Servimos a um Deus que sabe e conhece todas as coisas. Jesus conhecia o histórico daquele homem, bem como seu drama e sua dificuldade em alcançar um milagre. Não há nada que escape ou fuja do seu controle.

3 – A intrigante pergunta de Jesus
Queres ser curado?”. Parece meio fora de ordem essa pergunta de Jesus. Evidentemente, se aquele homem estava ali é porque alimentava em seu coração a expectativa de ser curado. Essa pergunta, basicamente, foi a mesma pergunta que Jesus fez ao cego Bartimeu: “Que queres que eu te faça?” (Lc 18:41). Obviamente, Bartimeu estava a procura da restauração da sua visão. Entretanto, parece-me muito claro que Jesus desejava ouvir a confissão por parte deles.
A confissão é algo muito importante na vida cristã. Devemos confessar ao SENHOR não apenas nossas faltas e pecados, como também nossas limitações e, sobretudo, nossa total dependência da graça dEle em nós. Após confessar diante de Jesus sua condição e real necessidade, o paralítico de Betesda finalmente, após 38 anos de espera, alcança um milagre. Contudo, dessa vez um anjo não desceu do céu para agitar a água; foi o próprio Deus quem desceu do seu trono de glória para encontrar-se com ele.


Rev. Daniel Sampaio Mota

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